Ela voava alegremente montada na sua vassoura, percorrendo céu, terra e submundo.
Feiticeira, pagã, rebelde, provocadora, caprichosa e emotiva.
Pelos quatro cantos do mundo colhia os elementos necessários aos seus feitiços e rituais. Transportava pétalas de rosa negra e folhas de manjericão; ervas doces e flores de maracujá; trevos de quatro folhas e essências de óleos perfumados.
Filha da Lua Cheia, fértil em feitiços, poções, rituais e magias atrevidas.
Ele era um mago reservado e temido. Dono de uns olhos escuros e penetrantes, tinha a capacidade de ler o pensamento alheio. Viajava no tempo fazendo magias poderosas. Dedicava-se ao estudo dos símbolos e da Astronomia, da materialização e da transfiguração, das tradições persas, egípcias e babilónicas. Era um estudioso da Alquimia Universal e a pedra basilar do seu clã.
Cruzaram-se em noite de renovação. Noite de eclipse, com os astros alinhados no céu, em jeito de sorte ou de catástrofe. Noite de grandes feitiços e magias loucas.
Ele fez círculos dentro de círculos, consultou os astros e auscultou o futuro.
Ela jogou no caldeirão as essências, os pós de sedução, pitadas de humor, grãos de alegria, sementes de paixão, notas musicais e estrelas da sorte. Depois rezou um encantamento antigo cuja receita herdara da avó.
Juntos, fizeram ao todo 1000 feitiços!
Ela guardou a sua poção em 12 pequenos frascos, enfeitados com as cores do arco íris e ofereceu-lhos, recomendando que bebesse um em cada primeiro dia do mês, exactamente na hora em que a Lua vinha render o Sol. Ele aceitou encantado e presenteou-a com um livro raro, cheio de encantamentos únicos e proibidos.
Num caldeirão de ferro forjado fizeram fortes magias. Transformaram em arte as emoções, acenderam o fogo da paixão e convidaram elfos, fadas e duendes para dançar em sua volta.
Juntaram o visível e o invisível. Foram luz e sombra num equilíbrio perfeito.
Sons encantados percorreram o Universo. Os corvos despertaram, incomodados com a força daquela magia e piaram estridentes, acordando o lado sombrio do disco lunar.
Rajadas de vento poderosas cruzaram os céus cortando pela raíz os 1000 feitiços. Apenas lhes restou transformarem-se, na protecção de um abraço encantado.
Muitos anos passaram e quem hoje cruza aquele bosque, jura que vê num dos ramos da árvore mais elegante de uma clareira, uma gata preta de olhos claros miando tranquilamente, junto a um urso pardo que lhe lambe o pelo luzidio com ternura.
Mas em noites de luar, nessas noites em que a Lua parece um balão, ninguém ousa entrar naquela clareira. Conta-se que há um caldeirão em cima de uma fogueira e que árvores, fadas, duendes e elfos, fazem uma dança ao som de uns cânticos estranhos, numa língua desconhecida. No centro encontra-se um urso a dançar a valsa com uma gata no colo e no meio da dança, urso e gata renascem homem e mulher do útero da Grande Mãe Terra!
FABULOSO.
ResponderEliminarDeixei-me encantar.
Digno de um livro de contos.´
"Mas em noites de luar, nessas noites em que a Lua parece um balão, ninguém ousa entrar naquela clareira. Conta-se que há um caldeirão em cima de uma fogueira e que árvores, fadas, duendes e elfos, fazem uma dança ao som de uns cânticos estranhos, numa língua desconhecida".
... isto é lindo...
Está mágico este post!
ResponderEliminarGostei muito!
Mais uma vez, uma narrativa bem estruturada e cheia de beleza!
ResponderEliminarDe encantar miúdos e graúdos.
Beijinhos
Texto lindíssimo e ainda por cima muito bem acompanhado por uma das músicas mais espectaculares do Represas.
ResponderEliminarBom gosto e muita imaginação são as palavras que aqui se impõem.
FC
Esta prosa mágica, em ritmo de dança, é absolutamente sedutora e deixa-nos o doce gosto dos "ganhos" do investimento amoroso.
ResponderEliminarBjinho da Cris
Falar de Magos Feiticeiras e Feitiços... isso me encanta... e seu texto.. uma delicia de leitura!
ResponderEliminarMuito giro...E a música está na perfeição!
ResponderEliminarDá vontade de ser o bruxo (a bruxa), no meio de tanta ação.
ResponderEliminarMuito bom!
Beijo!
Muito bonito este texto!
ResponderEliminarMuita fantasia, muita beleza, bem escrito.
Blogue diferente, cheio de encanto. Parabéns.
Manuela