domingo, 19 de julho de 2009

Um refúgio na serra

A casa estava encaixada na encosta da serra, harmonizando-se com a verdura da vegetação local. O caminho empedrado era sinuoso, próprio para se fazer de jipe e não naquele carro. O muro e o portão não permitiam ver o interior, assim que se chegava.

No jardim, as flores eram de um colorido descarado. As rosas mostravam vaidosas as suas pétalas, de um vermelho diabólico e aveludado; os lírios, esses erguiam-se espevitados, vestidos de um branco virginal e os girassóis, enormes e amarelos, iluminavam simpáticamente com a sua cor, o caminho de lages que conduzia ao alpendre.

Em redor da casa, as árvores ondulavam os seus ramos carregados de frutos e espalhavam um aroma espesso e doce no ar. Apenas a casa parecia parada no tempo, sem qualquer sinal de vida.

Abriu a porta de entrada deparando-se com a penumbra e lentamente foram-se desenhando os contornos do interior. Tudo permanecia igual, mas pairava no ar um odor a passado...foi abrindo as portadas e as janelas, cujas vistas para o jardim e para a serra eram deslumbrantes. A casa era linda e acolhedora.

Aquele fim de semana prometia ser um bálsamo, para um mês feito de contratempos e cansaço. As memórias do último encontro teimavam em tornar-se presentes, tornando ainda mais apetecível o que estava por vir.

Aproveitou o tempo que restava para dar uma volta pelo jardim, abrindo guarda-sois e as espreguiçadeiras da piscina. Sentou-se a olhar a serra a toda a volta, enquanto a brisa corria suave e morna acariciando a pele. Tudo convidava ao descanso, incluindo o som da água a correr no tanque, tal era o isolamento daquele refúgio na serra.

Reflectia, procurando respostas, encontrando silêncios e incertezas e constatando como a distância podia ser cruel. O cansaço foi mais forte fazendo-a adormecer, embalada na esperança de que aqueles dias fossem, no mínimo, tal como os tinha sonhado...

4 comentários:

  1. Muito bem caracterizado. Parece que vi (senti). O que está por vir?

    Beijão de final de domingo...

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  2. Magnífico esse refúgio. Por acaso não se aluga??

    FC

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  3. Olá!

    Vim para agradecer sua visita ao meu blog e ao comentário que deixaste sobre esse excelente poeta EGITO GONÇALVES, sem dúvida, um orgulho para Portugal.

    Para os portugueses que podem não conhecer sua obra, acho que não será difícil encontrar uma obra sua, já que deixou publicados vinte e um livros; o último, pelo que sei, em 1991, a antologia "O Pêndulo afectivo".

    Abraços,
    Pedro

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  4. E o segundo capítulo?
    Gostei!

    Ana Afonso

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