domingo, 10 de janeiro de 2010

Um dia conheci-te...desconhecido!



Era noite e o céu estava de um azul de fantasia.
A sombra de um homem movia-se lentamente num jardim.
Umas asas bateram ao de leve, sem fazer barulho, escondendo-se nas sombras gentilmente oferecidas pelas árvores.
Curiosa espreitava, já encantada com o que ia observando. Reconhecê-lo-ia em qualquer lugar, mesmo passados tantos anos. Observava-lhe a expressão concentrada, de quem tem algo importante a decidir.
Ele, imaginando-se só, deixou cair a máscara, revelando o ar atormentado de uma solidão disfarçada de auto-suficiência.
Não conseguindo resistir aproximou-se, imprudente.
Uma nuvem traiçoeira tapou o luar. Foi apenas por um instante, mas foi o suficiente para bater num ramo e cair desastradamente na sua frente.
O susto e o espanto foram mútuos.
Ela corou de vergonha e ele riu-se descaradamente do seu ar contrariado e descomposto!
-O que foi?! Ripostou ela, levantando-se e empinando o nariz...- Não me reconheces? Já não acreditas em fadas?
-Em tempos acreditei, sim. Mas depois...cresci.
-Grande tolo! É por isso que os teus desejos não se realizam! Já não acreditas neles!
-O que sabes tu dos meus desejos, ó sua fadinha reguila?
Ela riu-se trocista...
-Ora! Continuas com a mania...eu sou uma fada! E das boas, se queres saber.
-Nota-se, voas como um morcego pitosga! Hahahaha...mas dizes que já nos conheciamos?!
-Cresceste mesmo - constatou ela tristemente - eu era a TUA fada, aquela a quem encomendaste os teus sonhos!
-Então conta-me lá...para onde foram os meus sonhos? Aproxima-te, vem contar-mos ao ouvido...-acrescentou, não resistindo a provocá-la.
-Pois fica sabendo que vim exactamente com essa missão. - afirmou ela convicta - Tu guardaste os teus sonhos e não te lembras onde. Cobriste-os e disfarçaste-os com coisas sem importância e eles não gostam de ser escondidos, vão-se! Por isso vives perdido, com saudades deles...eu vim para te ajudar a encontrá-los.
-E porque te foste embora?
-Foste tu quem me mandou embora, quando decidiste CRESCER! - declarou amuada...-Mas ontem ouvi-te dizer que adoravas voltar aos teus tempos de criança...pois então, aqui estou! Voltei!!
-Hum...e como vais tu ajudar-me a encontrar esse tesouro perdido?
-Ora, como se não soubesses...tens que me deixar entrar de novo dentro de ti e procurar...-disse ela com ar guloso.
-Ok, vamos a isso então. Como entras?
-Fecha os olhos,...descontrai-te e pensa em coisas boas, doces, alegres, travessuras, diabruras, algodão doce e gelados de chocolate....psstt...
-Ei! Onde te meteste?
-Já cá estou, dentro de ti. Não sentes as cócegas? Já te esqueceste?...Um dia conheci-te, desconhecido!...Muito bem, os teus sonhos estão aqui, na minha mão, já os encontrei...
-Ok, agora podes sair, por favor? Não gosto que me vejam assim, por dentro!
-Certo, já sabes o que tens a fazer...diabruras e travessuras, bolos, chocolates, rebuçados, caramelos, gomas deliciosas...ups, já estou cá fora!
-Fada gulosa e comilona, só pensas em doces! Ficas comigo agora? Não voltas a partir? Não quero voltar a perder os meus sonhos...
-Então não os escondas de novo! Um sonho também gosta de se sentir importante...e eu fico sim, se prometeres que não me cortas as asas...