Voo nas asas de um pássaro para pousar de novo em ti. Já nem sei o porquê, porém atrais-me como a flor atrai a borboleta! Devassas-me corpo e alma, num império de sentidos, derrubando uma a uma todas as defesas construídas com cuidado. Olhas-me com cobiça. Inquietas-me! Lambes-me a pele quente, como um gato lambe um prato de leite, com gula e propriedade. E trememos em noites vadias, ouvindo baladas loucas, enquanto dançamos à lua. Invade-nos um cheiro doce que nos vai consumindo, enquanto o sol se deita sobre o mar. Fica-nos o gosto de frutos de verão na boca, o cheiro de flores silvestres no cabelo e o segredo das marés no corpo, num vai e vem incansável que nos deixa marcas de salitre na pele. Enfeitaste-me com palavras e embalaste-me com dois braços cheios de ternura. Mas hoje, no canto do meu sorriso, trago uma saudade longa e nos olhos um mar de acusações mudas, de promessas e desejos por cumprir. Guardo o azul da nossa história, mas vou desdobrando dias e noites com as mãos vazias de ti, quando queria as tuas pousadas no meu ventre toda a noite. Deixas em mim um buraco do tamanho que precisas para partir, numa doce vaga que me leva o sonho. Não há abraço que te guarde, por maior que seja. Fico a guardar o cheiro do mar e o sabor do vento, porque há gritos que não consigo conter. Tudo na vida é recomeço e o mundo voltará a dar sinal. As ondas vão e voltam... Deixo-te os beijos do mar que adoro e o abraço de uma estrela algures perdida no céu...
Menino de face morena e macia, roubam-te do olhar os sonhos de criança. Trocam-te os contos de fadas, por tristes histórias dos mártires de Alá.
Os teus braços não abraçam peluches, seguram armas e armadilhas, bombas e explosivos. O perigo é o teu brinquedo!
Essa cara de menino será o rosto assustador desta era sombria, por detrás de um véu de horror indizível.
Serás a nova geração do homem-bomba, porque te prometem o paraíso em troca da tua vida de criança. Quem assim te sacrifica, é filho de um radicalismo insano! Fanáticos que usam a religião para manter um estado de terror. E desta fúria sem rédeas nascem sementes de vingança, acende-se o rastilho de um ódio feito de dor.
E tu, ainda menino, serás desfeito numa qualquer rua suja e deserta. Sei que entre lágrimas de tristeza, te vou ver despedaçado nos jornais vespertinos, logo que a manhã chegar. Entre imagens de pânico e desepero, entre vítimas e sobreviventes, ninguém se lembrará que tiveste uma alma feita de luz, que partiste cedo demais, porque um anjo de asa negra te veio buscar.
Perdeste o futuro e ninguém pensou em te embalar. Em vez de colo tiveste buracos de areia, num treino bizarro para te tornares um "guerreiro de Deus".
Cada gota do teu sangue vai regar uma vez mais a terra do ódio.
Eu, recordarei um espírito de criança que outrora sonhou e alguém enganou com falsas promessas. E choro-te, por teres nascido Filho de um Deus Menor!
Devo responder a 3 questões e passar a três outros blogues que considere merecedores.
1.Por que acha que mereceu este selo?
R: Nem sei! O Ricardo é sempre uma simpatia nos comentários que faz aos meus textos. Talvez ache graça aos meus contos :))
2. Na sua opinião, qual o post do seu blogue que acha mais merecedor de um prémio?
R: Vejo o blogue como um todo, não acho nenhum post melhor que outro. No entanto houve alguns contos que adorei fazer.
3. Do blogue que me indicou, o que mais me agrada? Ele merecia o blog de ouro?
R: Sem dúvida que merecia! Se não fosse ele a indicar-me seria um dos que eu indicaria para este selo. É um blogue incisivo e intenso! Os poemas do Ricardo têm uma estética própria, diferente do habitual. São muito originais. Acho que ele mede muito bem o que diz, jogando com as palavras de uma forma maravilhosa.
Olhava a sua imagem reflectida no espelho, em jeito de balanço de uma vida.
Caracóis prateados e abundantes emolduravam-lhe o rosto de expressão benevolente e serena.
Uma silhueta esbelta mostrando ainda sinais de graciosidade.
Longe iam os tempos de angústia e as desilusões sofridas com amores do passado. Ali estava agora perdida em memórias, com um sorriso no canto dos lábios. Lábios onde sempre guardava beijos preciosos para distribuir nas bochechinhas daqueles seres pequeninos, saltitantes e meigos.
Eram fontes de alegria que a envolviam sempre em abraços apertados, enquanto lhe diziam : "Cheira tão bem avózinha! Que bolinho fizeste hoje para o lanche?"
Preenchiam-lhe o colo enquanto contavam segredos, sabendo que eram ouvidos sem pressa por um coração cheio de sábios conselhos e repleto de ternura, no qual tinham lugar cativo.
"Vais ver-nos jogar este fim de semana avó? Vamos ganhar aquele jogo só para ti! Também vamos ter muitas taças como tu avó!"
Aquele brilho nos olhos, a expressão de confiança, a emoção e o entusiasmo que lhe traziam...os seus netos, as estrelas do seu céu, naquela vida onde não faltaram sobressaltos.
Recordou, perdida no tempo, a conquista diária da sua tranquilidade. Aquele amor único, que lhe foi oferecido de forma incondicional. Um amor sem egoismos que lhe permitiu resgatar a melhor versão de si própria após tanto desgaste vão.
Esse amor que agora lhe entrava no quarto e a abraçava, formando naquele espelho um quadro cúmplice e encantador.
Lua faceira, minha velha amiga...diz-me, os sonhos para onde vão? Eu não sonhei com cordas para amarrar a alegria; não quero ter medo da noite ter fim; não quero verdades incertas nem farrapos de sonhos. Sonhei acordar com a voz do mar e o corpo embriagado de desejo; sonhei trocar segredos e palavras de mel; sonhei sacudir estrelas e apanhar purpurinas; quero dançar descalça na areia, como se não houvesse amanhã; quero que o meu coração voe com as asas de mil fadas traquinas; quero um entendimento sereno e a cumplicidade de alguém que se deixe tocar; quero o refúgio de um abraço seguro em manhãs quentes com café; quero algo tão genuino como um sorriso de ternura. Mas se tiver de partir não digo adeus! Apanho a sétima onda sem tocar na areia e vou conhecer a secreta noite dos peixes. Serei embalada pelo suave ondular do mar. Deixo um frasco de perfume vazio que continuará a largar cheiro. Lua, minha velha amiga, acende o meu sonho! Amanhã é um novo dia, mas eu quero dias com cheirinho de azul!