terça-feira, 16 de março de 2010

Obrigada Ricardo!


Agradeço o presente do blogue Poema e Filosofia.

Devo responder a 3 questões e passar a três outros blogues que considere merecedores.
1. Por que acha que mereceu este selo?

R: Nem sei! O Ricardo é sempre uma simpatia nos comentários que faz aos meus textos. Talvez ache graça aos meus contos :))


2. Na sua opinião, qual o post do seu blogue que acha mais merecedor de um prémio?


R: Vejo o blogue como um todo, não acho nenhum post melhor que outro. No entanto houve alguns contos que adorei fazer.


3. Do blogue que me indicou, o que mais me agrada? Ele merecia o blog de ouro?


R: Sem dúvida que merecia! Se não fosse ele a indicar-me seria um dos que eu indicaria para este selo. É um blogue incisivo e intenso! Os poemas do Ricardo têm uma estética própria, diferente do habitual. São muito originais. Acho que ele mede muito bem o que diz, jogando com as palavras de uma forma maravilhosa.

E passo este prémio a:


Searas de Versos

1000 Conversas

António Gallobar

terça-feira, 2 de março de 2010

Vadio

Triste, roto, esfarrapado,
mero espectro de gente,
errante, vadio, esgotado,
tenta ser sobrevivente.

Sedento, exausto, perdido,
é marginal e vagabundo.
Solitário, enlouquecido,
É um "bicho" deste mundo.

Arrasta-se pela rua, furtivo.
É eco da própria história.
A má sorte fê-lo cativo.
De risos não tem memória.

Nós damos sopa, café, pão coado,
algo que sabemos ser pouco
a quem o sonho foi roubado
e a miséria torna louco!

É vê-lo estendido no chão,
a noite a fazê-lo gelado.
Cobre-se com placas de cartão
e no meio da escuridão,
adormece esfomeado.

Hipócrita, cínico, imoral,
falso, odioso, o "bom cristão"!
Marca presença na igreja,
mas ao pobre não estende a mão!

É rápido a condenar,
o dedo aponta com destreza,
mas nunca o mandem ajudar,
pode-lhe fugir a riqueza!

Tire-se o véu do certo e do errado
que pesa sobre gente perdida
e o vagabundo desdentado,
outrora um menino amado,
pode voltar a ter vida!



Estes versos foram inspirados num texto fantástico do Pedro Viegas no 1000 Conversas- "Na viela da saudade"

segunda-feira, 1 de março de 2010

O espelho

Olhava a sua imagem reflectida no espelho, em jeito de balanço de uma vida.

Caracóis prateados e abundantes emolduravam-lhe o rosto de expressão benevolente e serena.

Uma silhueta esbelta mostrando ainda sinais de graciosidade.

Longe iam os tempos de angústia e as desilusões sofridas com amores do passado. Ali estava agora perdida em memórias, com um sorriso no canto dos lábios. Lábios onde sempre guardava beijos preciosos para distribuir nas bochechinhas daqueles seres pequeninos, saltitantes e meigos.

Eram fontes de alegria que a envolviam sempre em abraços apertados, enquanto lhe diziam : "Cheira tão bem avózinha! Que bolinho fizeste hoje para o lanche?"

Preenchiam-lhe o colo enquanto contavam segredos, sabendo que eram ouvidos sem pressa por um coração cheio de sábios conselhos e repleto de ternura, no qual tinham lugar cativo.

"Vais ver-nos jogar este fim de semana avó? Vamos ganhar aquele jogo só para ti! Também vamos ter muitas taças como tu avó!"

Aquele brilho nos olhos, a expressão de confiança, a emoção e o entusiasmo que lhe traziam...os seus netos, as estrelas do seu céu, naquela vida onde não faltaram sobressaltos.

Recordou, perdida no tempo, a conquista diária da sua tranquilidade. Aquele amor único, que lhe foi oferecido de forma incondicional. Um amor sem egoismos que lhe permitiu resgatar a melhor versão de si própria após tanto desgaste vão.

Esse amor que agora lhe entrava no quarto e a abraçava, formando naquele espelho um quadro cúmplice e encantador.