sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quero um cheirinho de azul

Lua faceira, minha velha amiga...diz-me, os sonhos para onde vão?
Eu não sonhei com cordas para amarrar a alegria; não quero ter medo da noite ter fim; não quero verdades incertas nem farrapos de sonhos.
Sonhei acordar com a voz do mar e o corpo embriagado de desejo; sonhei trocar segredos e palavras de mel; sonhei sacudir estrelas e apanhar purpurinas; quero dançar descalça na areia, como se não houvesse amanhã; quero que o meu coração voe com as asas de mil fadas traquinas; quero um entendimento sereno e a cumplicidade de alguém que se deixe tocar; quero o refúgio de um abraço seguro em manhãs quentes com café; quero algo tão genuino como um sorriso de ternura.
Mas se tiver de partir não digo adeus! Apanho a sétima onda sem tocar na areia e vou conhecer a secreta noite dos peixes. Serei embalada pelo suave ondular do mar. Deixo um frasco de perfume vazio que continuará a largar cheiro.
Lua, minha velha amiga, acende o meu sonho!
Amanhã é um novo dia, mas eu quero dias com cheirinho de azul!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Passos ao luar







A brisa varria a costa enquanto as ondas vinham, leves e ritmadas, reclamar a lisura e a maciez da areia branca.
A água brilhava como prata e a lua descia sobre um poço de paz, acendendo-se no mar como um desejo.
Parecia-lhe vê-la ainda ali, a pairar, fazendo a dança do vento com flores penduradas no cabelo e o ventre salpicado de beijos.
O sol a banhar-lhe a pele morena, cor da canela. Rosto oval, emoldurado por caracóis escuros. Morena, menina, dourada, serena e inquieta, a quem sempre se rendia entre o segredo da noite e o sol da manhã.
Tinha presente cada beijo, cada abraço e uns olhos cálidos de mel e de cacau.
Perfume quente, doce e feiticeiro, que se enrolava no corpo como fitas de seda, fazendo-o prisioneiro daquela beleza morena. Seduzia-se só de a adivinhar em indefesas madrugadas.
Morena que passeia na praia e inventa passos ao luar; que sonha e descobre atalhos para o paraíso enquanto se olha no espelho do mar.
Estava ali de olhos fechados, num abismo de tempo silencioso, moldando-a no escuro, fazendo-a escultura no pensamento. Procurava-a em pedaços recortados de alegria transbordante. Morria de morte lenta no desejo, vivendo entre a tempestade e a bonança, entre si e a realidade.
A morena voara na brisa da maré vazante, brincando com o vento. Levara o cheiro da flor e a cor da beleza, deixando os búzios virados para Norte.