Sempre fui do género 2 em 1. Essa filosofia podia ter sido inventada para mim. Sou assim desde que me conheço como gente, uma luta constante entre o racional e o emocional. Luta muito desigual, diga-se em abono da verdade, pois o emocional, sempre foi e será o meu lado mais forte! Talvez por isso, nunca perdi o hábito de sonhar acordada...e neste hábito me refugio, sempre que a minha alma o pede.
Hoje, mais uma vez sonhei...entre o acordada e o adormecida, bem mais para lá do que para cá...e foi nesse estado de semi-inconsciência que vi aqueles dois pequenitos a correr de mãos dadas na direcção do nevoeiro. Uma brisa repentina ficou mais forte, envolvendo-me e convidando-me a seguir em frente. Continuei a observar aqueles dois que maravilhados afastavam a névoa com os braços, em gestos harmoniosos e risos cristalinos. Espantei-me quando repentinamente aquela floresta se tornou visível aos meus olhos. Entrei, pairando entre o receio e o fascínio que aquelas duas crianças exerciam sobre mim.
De novo aquela brisa perfumada, que me acalmava os nervos irritados, fazendo-me sentir maravilhosamente refrescada e até entusiasmada.
Segui um trilho ladeado por umas árvores de copas altas, de um tom intensamente verde, até chegar a uma clareira. Vi-os de imediato, com aquele par de cabeçitas coroadas de caracóis escuros e brilhantes encostados um ao outro e aproximei-me até poder observá-los.
Foi um choque reconhecer neles os meus e os teus olhos! Aqueles não eram olhos de criança! Olhavam-se com com uma expressão amadurecida, como se já tivessem vivido muitas vidas até aquele reencontro em corpo de criança.
As palavras trocadas eram escassas, mas cheias de riso e de ternura. Não eram duas crianças comuns, estavam repletas de uma luz interior, nascida da compreensão, afinidade e gratidão por se terem um ao outro.
A menina olhou-me então e emocionada fitei os meus próprios olhos naquela criança. Ambos me deram as mãos e me disseram "nunca esqueças o sabor do nosso abraço, pois quando a tua existência acabar, falarás sobre nós com as estrelas!"...
Senti agora a brisa transportar-me de regresso e acordei de novo consciente, no meu sofá, mas ausente de mim, como uma turista, observando os ecos da minha história.
Agradeço ao sonho esta liberdade e sinto-me numa fronteira, vestida de incertezas e cegueira consentida.
Quero adormecer de novo, para ver nascer o que o sonho produz e nesse sonho irei achar o meu Norte.